30.12.07


Renúncia


A minha mocidade há muito pus
No tranquilo convento da tristeza;
Lá passa dias, noites, sempre presa,
Olhos fechados, magras mãos em cruz...


Lá fora, a Noite, Satanás, seduz!
Desdobra-se em requintes de Beleza...
E como um beijo ardente a Natureza...
A minha cela é como um rio de luz...


Fecha os teus olhos bem! Não vejas nada!

Empalidece mais! E, resignada,
Prende os teus braços a uma cruz maior!


Gela ainda a mortalha que te encerra!

Enche a boca de cinzas e de terra
Ó minha mocidade toda em flor!


Florbela Espanca