Posso fingir que nada aconteceu
após esse telefonema?
Olho pela janela, a montanha, os prédios.
Posso sair, comprar roupa nova,
ir ao cinema, ao bar, concerto,
respirar fundo, dizer, tinha que acontecer,
dizer, amei-a muito, pensar
que o passado já começou.
O telefonema em mim ressoa.
Sobre um sentimento assim não se põe uma pedra
e se segue em frente
Mesmo que eu siga, sem olhar pra trás
a pedra
florescerá
secretamente
Affonso Romano de Sant'Anna
(poeta brasileiro)
(poeta brasileiro)