6.8.10

Perdidos



Às vezes, sem ninguém perceber,
sentimo-nos tão sós,
tão ilha abandonada
e isolada no meio do oceano,
tão náufragos perdidos
na imensidão do azul,
tão incapazes de estímulo ou reacção,
tão carentes de mimo e carinho,
tão fartos de ser fortaleza,
de ser para os outros a tábua de salvação,
esquecidos de nós próprios
e do nosso verdadeiro caminho...
Tão nada no meio da multidão,
de tanta coisa que nos sufoca,
de tanta confusão,
de tanta dor e tristeza.
Tudo à nossa volta
nos aperta e estrangula.
Asfixiamos só de respirar.
Gritamos desesperadamente
por socorro a Deus e ao Universo,
por uma gota de água doce
que nos mitigue do sal que nos rodeia.
Até as lágrimas já secas
não consolam, nem saciam.
Cansados de barreiras,
enviamos sinais de fumo,
desfraldamos os lenços brancos
da paz e do perdão,
agitamos as bandeiras
da concórdia e serenidade,
mas o Universo não nos ouve,
nem nos responde,
demasiado ocupado
com outras ilhas precisadas igualmente
do seu apoio e atenção.
Então acenamos as folhas gigantes das palmeiras
do adeus e da despedida
e afundamos lenta e dolorosamente...
Emudecemos...
Silenciamos...
E fechamos as janelas da alma.
Sofremos, solitária e cruelmente...
E a voz de Deus, a voz do Universo
surge, agora já tardia,
rompendo a escuridão
e não nos consegue salvar.
Exaustos, dando fim ao bulício,
mergulhamos no precipício das águas,
engolidos pela ferocidade do mar.


Isabel Branco