à memória de João Luís do Amaral
Quase perdida a memória das frias águas
escorrendo pelas encostas
bíblico fitavas esta chuva
estes ventos
estas árvores de grandes sombras.
Os caminhos da juventude entre Douro e Minho
a casa velha a quinta dos invernos
— tudo palavras de um livro arrumado na estante
que (para o manter vivo)
de longe em longe passava pelos olhos.
Pão levedado de erros e grandezas
aos dentes da vida te deste inteiro
enquanto a cidade nascia sob os teus pés
crescia
e as raízes da rotina milímetro por milímetro
se iam afundando.
Partiste
sem te despedires
para a licença ilimitada mais definitiva
mas entre Chamanculo e Xipamanine
o chão que pisaste
retém teu nome para sempre.
Fonseca Amaral
Moçambique
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