10.6.07


Soneto de Eurydice


Eurydice perdida que no cheiro
E nas vozes do mar procura Orpheu
Ausência que povoa terra e céu
E cobre de silêncio o mundo inteiro

Assim bebi manhãs de nevoeiro
E deixei de estar viva e de ser eu
Em procura de um rosto que era meu
O meu rosto secreto e verdadeiro

Porém nem nas marés nem na miragem
Eu te encontrei. Erguia-se somente
O rosto liso e puro da paisagem

E devagar tornei-me transparente
Como morta nascida à tua imagem
E no mundo perdida esterilmente.


Sophia de Mello Breyner Andresen