25.6.07

Adeus


Vai-te, que os meus abraços te magoaram,

E o meu amor não beija!, arde e devora.

Foram-se as flores do meu jardim. Ficaram

Raízes enterradas, braços de fora...

Vai-te! O luar é para os outros; e os afagos

São para os outros..., os que ensaiam serenatas.

Ja a Lua que nos lagos bóia pérolas e pratas

Não nasce para mim, que estou sem lagos.

Quando me nasce, é como um reluzir da treva,

Um riso da escuridão

Que na minh' alma ecoa, e que ma leva

Por lonjuras de frio e solidão...

Vai-te, como vão todos; e contentes, de libertos

Do peso de eu lhes não queres trautear mentiras.

Como serias tu, flébil flor de olhos de safiras,

Que me acompanharias nos desertos?

Vai-te! não me supliques que te minta!

Beijo-te os pés pelo que me oferecias.

Mas teu amor, e tu, e eu, e quanto eu sinta,

Que somos nós mais do que fantasias?

Sim, amor meu: em mim, teu amor era doce.

Premir na minha mão a concha nácar do teu seio

Era-me um bem suave enleio...

Era... - se o fosse.

Vai-te!, que eu fui chamado a conquistar

Os mundos que há nos fundos do meu nada.

Talvez depois reaprenda a inocência de amar...

Talvez... mas ai!, depois de que alvorada?

Porque até Lá, é longe; e é tão incerto,

Tão frio, tão sublime, tão abstracto, tão medonho...

Como dar-te a sonhar este sonho dum sonho?

- Vai-te! a tua casa é perto.



José Régio