A quem falo no mundo? Por quem foi
Esta bandeira branca de poeta?
A quem descubro a chaga que me rói
Por não ser seu artista e seu profeta?
A quem arranco com beleza a seta
Do calcanhar humano que lhe dói?
A quem vejo chegado à sua meta,
Novo senhor da terra e novo herói?
A nenhum homem, que a nenhum conheço.
Água de um rio que não tem começo,
Nas duas margens sinto o mesmo não.
Mas na direita a vida é gasta e velha...
Só na outra uma chama se avermelha
Capaz de me aquecer o coração.
Miguel Torga