A um livro
No silêncio de cinzas do meu Ser
Agita-se uma sombra de cipreste,
É uma sombra triste que ando a ler,
No livro cheio de mágoa que me deste!
Estranho livro aquele que escreveste
Artista da saudade e do sofrer
Estranho livro aquele em que puseste
Tudo o que eu sinto sem poder dizer!
Parece que folheio toda a minh’alma!
O livro que me deste é meu, e salma
As orações que choro e rio e canto!
Poeta igual a mim, ai quem me dera
Dizer o que tu dizes!... Quem soubera
Velar a minha Dor desse teu manto!...
Florbela Espanca