24.12.08

Noite de Natal

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(A um pequenito, vendedor de jornais)

Bairro elegante, - e que miséria!
Roto e faminto, à luz sidéria,
o pequenito adormeceu...

Morto de frio e de cansaço,
as mãos no seio, erguido o braço
sobre os jornais, que não vendeu...

A noite é fria. a geada cresta;
em cada lar, sinais de festa!
E o pobrezinho não tem lar...

Todas as portas já cerradas!
Ó almas puras, bem formadas,
vede as estrelas a chorar!

Morto de frio e de cansaço,
as mãos no seio, erguido o braço
sobre os jornais, que não vendeu,

em plena rua, que miséria!
Roto e faminto, à luz sidéria,
o pequenito adormeceu...

Em torno dele -ó dor sagrada!
Ao ver um círculo sem geada
na sua morna exalação,

pensei se o frio descaroável
do pequenino miserável
teria mágoa e compaixão...

Sonha talvez, pobre inocente!
Ao frio, à neve, ao luar mordente,
com o presépio de Belém...

Do céu azul, às horas mortas,
Nossa Senhora abriu-lhe as portas
e aos orfãozinhos sem ninguém...

E todo o céu se lhe apresenta
numa grande Árvore que ostenta
coisas dum vívido esplendor,

onde Jesus, o Deus Menino,
ao som dum cântico divino,
colhe as estrelas do Senhor...

E o pequenito extasiado,
naquele sonho iluminado
de tantas coisas imortais,

- no céu azul, pobre criança!
Pensa talvez, cheio de esp'rança,
vender melhor os seus jornais...


António Feijó