IX
Chuva!,
chuva que bonda!,
chuva que tomba
— bumba ! ...
Cheiro a chuva que embriaga…
Chuva que alaga,
e estraga
o mal do sol.
Esverdinharam-se os montes
— um poema! —
... foi em dois dias
um poema!...
Eram castanhos os montes
e as árvores esgalhadas,
e atormentadas,
e nuas...
Esverdinharam-se as árvores
e as bordaduras
das ruas.
E os meus olhos cansaram-se,
coitados!,
esverdinhados também:
... alargaram-se
verdes,
além do verde,
que tem
a cor do oiro que se perde,
e ninguém teve
nem
tem.
— Esverdinharam-se os montes:
(um poema!)
a sorridente angústia dum poema.
António Pedro (poeta caboverdiano)