Relato

                                        
   Foi longo o meu caminho de poeta,
                                              Com versos de agonia demorada.
                                              A vida imaginada
                                              Paralela
                                              À outra, acontecida.
                                              E ambas a enfunar a mesma vela
                                              Já sem rumo à partida.
                                               Os áugures previam,
                                              Os mapas ensinavam,
                                              A bússola apontava...
                                              Mas faltava a fé das almas confiadas.
                                              Teimoso, repetia
                                              A pergunta inquieta que fazia
                                              Ao vazio das horas navegadas.
                                              Que certa direcção
                                             Dar ao timão 
                                             Numa viagem sem qualquer sentido?
                                             O mar diariamente enfurecido,
                                             O céu diariamente enevoado,
                                             E o barco fatalmente conduzido.
                                             A um cais de morte sempre adivinhado...
Miguel Torga