VI
Em que estado meu bem, por ti me vejo,
            Em que estado infeliz, penoso, e duro!
            Delido o coração de um fogo impuro
            Meus pesados grilhões adoro e beijo.           
Quando te logro mais, mais te desejo,
            Quando te encontro mais, mais te procuro,
            Quando mo juras mais, menos seguro
            Julgo esse doce amor, que adorna o pejo.           
Assim passo, assim vivo, assim meus fados
            Me desarreigam da alma a paz, e o riso,
            Sendo só meu sustento os meus cuidados.           
E, de todo apagada a luz do siso,
            Esquecem-me (ai de mim!) por teus agrados
            Morte, juízo, inferno e paraíso.
Bocage
 
