Auto-retrato português
                                  Nesga humana dum grande mapa humano,
                                   Aqui, a ocidente e ao sol, dormito;
                                   O manto do infinito
                                   Veste-me a pequenez;
                                   E o mar cerúleo, aberto à minha ilharga,
                                   Alarga
                                   O meu nirvana azul de português.
                                      Rei que renunciou, cansado,
                                   Ao ceptro da aflição,
                                   Digo não,
                                   Digo sim,
                                   Com igual abandono...
                                   Tão distante de mim
                                   Como do trono...
                                    Vivi antes da hora o que vivi.
                                    E, agora, vegeto,
                                    Feliz de nada ser,
                                    De nada desejar,
                                    E de nada sentir,
                                    Agradecido ao mar de nunca me acordar,
                                    E agradecido ao céu de sempre me cobrir.  Miguel Torga

 
