Eu às vezes acordo e olho a noite estrelada
           E sofro doidamente.
           A lágrima que brilha nos meus olhos
           Possui por um segundo a estrela que brilha no céu.
           Eu sofro no silêncio
           Olhando a noite que dorme iluminada
           Pavorosamente acordado à dor e ao silêncio
           Pavorosamente acordado!
           Tudo em mim sofre.
           Ao peito opresso não basta o ar embalsamado da noite
           Ao coração esmagado não basta a lágrima              triste que desce,
           E ao espírito aturdido não basta a consolação              do sofrimento.
           Há qualquer coisa fora de mim, não sei, no vago
           Como que uma presença indefinida
           Que eu sinto mas não tenho.           
Meu sofrimento é o maior de todos os sentimentos
           Porque ele não precisou a visão que flutua
           E não a precisará jamais.
           A dor estará em mim e eu estarei na dor
           Em todas as minhas vigílias...
           Eu sofrerei até o último dia
           Porque será meu último dia o último dia da minha              mocidade.
Vinicius de Moraes (poeta brasileiro)

 
