Post Scriptum

Agora regresso à tua claridade.  
Reconheço o teu corpo, arquitectura 
de terra ardente e lua inviolada, 
flutuando sem limite na espessura 
da noite cheirando a madrugada.
Acordaste na aurora, a boca rumorosa 
de um desejo confuso de açucenas; 
rosa aberta na brisa ou nas areias, 
alta e branca, branca apenas, 
e mar ao fundo, o mar das minhas veias.
Estás de pé na orla dos meus versos 
ainda quente dos beijos que te dei; 
tão jovem, e mais que jovem, sem mágoa 
- como no tempo em que tinha medo
que tropeçasses numa gota de água.
Eugénio de Andrade
 
