19.1.11

Naufrágio


Erraste muito tempo sem saber
quantos anos durou dentro de ti
a primavera Nada
nessa água te lava já o rosto
ou que deles resta submerso
nas correntes marítimas da morte
como líquido espectro ou colorida
anémona A memória
mascara pouco a pouco essas imagens

Erraste sem saber qual a matéria
da tua vida O fogo
acendeu hoje a casa do teu corpo
tão cedo arruinado e tu naufragas
nessa doce catástrofe
na espuma desse mar Qual o instante
em que o verão se transforma no outono
se o arrepio da noite quando chega
parece ainda um luminoso dia?


Fernando Pinto do Amaral