8.1.11

Uma obra imortal



Hoje, meu amor, quero confessar-te
a minha intenção de criar,
por palavras de sede, esconjuro e sonho,
uma obra onde imortalizarei
todos os teus gestos.

Por isso, peço-te, nos próximos anos não me
telefones, escrevas cartas, envies ramos de flores,
ou deixes recados no atendedor de chamadas,
sequer me surpreendas à saída do emprego.
Sabes como eu adoro surpresas,
como pouco aprecio a solidão, esse
refúgio de falsos guerreiros que
misturam o alcoól da tristeza
com a tranquilidade mansa da noite.

se fores capaz de cumprir este meu desejo
prometo que criarei uma obra
que os vindouros aclamarão.

Faz com que os teu passos
esqueçam o trilho dos meus
e eu possa finalmente escrever.

(Toca o telefone. Oh és tu de novo...
sim, deixa-me só tomar um duche,
mudar de roupa. Aonde é que vamos dançar?)


Jorge Gomes Miranda