Usamos todos a ilusão
de fabricar a vida:
histórias, constelações
de sons e gestos
Usamos todos a suprema glória
do amor: por generosidade
ou fantasia, ou nada, que de anda se fazem
universos
Usamos todos mil chapéus de bicos
mal recortados e de encontro
ao sol:
o nosso mais perfeito em franja e bico
e um arremedo tal e seiscentista
que ofuscando-se: o sol
Usamos todos esta condição
de pó de vento, ou de rio
sem pé: único dom de fabricar o tempo
em raíz de palmeira
ou de cipreste
Ana Luísa Amaral