30.1.11

Os meus sentidos


Um dia vi Deus numa palavra 

e luminosa despontava, argila. 

E Deus vagueava tudo, aquietava

 as numinosas letras, quase em fila.

E depois se banhava nesta ilha 

de bosques e bilênios. Clareava 

as formigas noctâmbulas da fala. 

E nele os meus sentidos se nutriam.

Os meus sentidos eram coelhos ébrios

 na verdura de Deus entretecidos. 

A palavra empurrava o que era cego,

a palavra luzia nos sentidos. 

E Deus nas vistas do menino, roda 

e roda nos olhos da palavra.

Carlos Nejar
Brasil