Estou hoje sombrio, doente, aborrecido,
Invadiu-me não sei que pessimismo azedo;
O dia está tão triste! e eu sinto-me oprimido
Sob o nevoento céu, grosso como um rochedo.
Fechou a oficina aqui defronte, o dono
Foi passear. Odeio este ócio domingueiro,
E um piano que tem levado o dia inteiro
A gemer uma valsa horrível, que faz sono.
No Imóvel infiltro a minha hipocondria.
Vejo-o a bocejar, tristonho, endomingado..
Frenético, fito a alva casaria,
O macadame poeirento e quase intransitado.
O mar adormeceu desoladoramente,
Parece-me um deserto. Eu lembro desgostoso
Terras que não alcança o meu olhar saudoso,
As grandes capitais, o decantado Oriente.
Vasta separação! Aumenta a minha mágoa,
Porque fico a evocar lindíssimos países.
É cada vez mais triste este deserto de água,
Que atravessam no entanto os ricos, os felizes!
O vago marulhar inspira-me saudades,
Como se nele viesse o eco enfraquecido,
Nostálgico, da voz remota das cidades
Perdidas na amplidão desse ermo indefinido.
E vou talvez viver, morrer nesta prisão!...
Anoitece, chuvisca. Eu fumo, desolado.
No entanto passa a rir um grupo endomingado,
Contente no seu meio e isento de ambição…
Roberto de Mesquita