Tiro os óculos e recua o mundo:
torno à mais árdua intimidade.
Diónisos ou Penteus, antes do sangue
pesa já a vinha sobre as colinas
de Outubro.
As bodas místicas
do deus e da noviça, meu destino
branco, minha face nocturna,
não os preserva a ciência
dos três livros, nem figurariam,
por certo, na cinza dos restantes.
Sei, entre névoas e azul, de uma
biblioteca deserta, cujas estantes,
por desnudas, não enjeitam
a mais discreta sabedoria.
Em sua transparência se inscrevem,
como a luz à luz se sobrepõe.
Trago na pele e nos olhos,
sobre a língua e o palato,
a memória escaldante
de uma mulher.
Devora-me
um álcool lento e sedicioso.
De todas as mortes sofridas,
só esta temo e não desejo.
Rui Knopfli
Moçambique
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