Estamos de passagem mas em caso algum
esqueceremos o orvalho. Os nossos poros
ossificaram o sangue, é o que a terra diz:
– o alcatrão não é o meu vestido de luto,
mas a pele irrespirável da minha carne.
Agora quem vai querê-la por noiva?
As grinaldas estão cheias de poeira e a
marcha nupcial desafina as estrelas.
O sol feito de gasolina na nossa pele
de verão apodrece depressa nas rugas.
Ainda ris por entre as frestas negras
e deixas entrever outro destino nas folhas
de chá. Mesmo assim o teu cadáver
é belo entre as flores do campo que resta
e o fumo do comboio que te cinza.
O orvalho é uma palavra dócil. Às primeiras
horas quando os despojos se deixam invisíveis
ainda me extasias como a uma princesa a florar
a erecção inicial antes da radiografia pulmonar.
Não choramos por nós quando te morremos?
Rosa Alice Branco