Ó meu saudoso olhar, penumbra triste
Que da alma das coisas se enamora,
Onde o riso se extingue e aonde chora
A lágrima de tudo quanto existe.
Ó meu saudoso olhar, relembra agora
Aquela doce luz que um dia viste
Iluminar-te a vida e que persiste
Em deslumbrar-te ainda, como outrora.
Tudo é silêncio e dor; tudo é saudade.
E lembro o meu amor e o seu encanto,
Os seus olhos de estranha claridade.
Ó meu bendito amor! Bendita luz!
Por quem eu dava a vida e tudo quanto
Além da própria vida me seduz!
Anrique Paço d'Arcos