27.1.11

A Bailarina




E então tu entras no poema
com as tuas mãos alongando
a ausência do teu corpo
esgueirado na margem
do meu espanto
e bato palmas.
Deixas-me entrar no teu palco
com o fito de te admirar apenas.
Aqui estou minha bailarina
nesta Andaluzia improvisada
sapateando uma noite de guitarras
e estas vozes entre palmas
que esvoaçam a minha solidão.
Vejo-te assim nos meus versos
tuas mãos africanas indianas árabes
tua comovente beleza
na cadência deste flamenco
nestas vozes ciganas tangendo-me
com as ocres cores de Sevilha
nos pátios da Ilha de Moçambique
onde tu bailas e voltas a bailar
e eu bato palmas de júbilo
no êxtase dos gestos
que acordam os sinais
que me lembram
a tua ausência.


Nelson Saúte
Moçambique