17.2.11

Espectros que vêm das estrelas



Na noite vidro, um brilho de fósforo: azul.
Ouvi dizer que as estrelas são as moradas dos mortos,
irradiam assim alguma possibilidade?..
De qualquer modo saem dos nichos os algozes
que nos torturarão ao longo de uma vida inteira...
«Como te chamas ?», pergunta-se para haver resposta.
Descem com os grandes farricocos de Lua esgazeada,
sem O. V. N. I. de seda que lá nos possam flutuar
e vogam só as capas de morcego sobre os olhos.
Sigo-os eu até às suas pernas clandestinas,
dançam já e cortam-me a cabeça-
para quê voar dêem-me aquele pouco de loucura
de ser mais um zombie por aquj,
pois a minha vida é apenas «for the moment»
e todo o meu destino-1800
é navegar de cartola e bengala na mão de ferro
com castão lunar na gravidade destes sonhos.
Penso, penso em ti, como é o teu nome de cabelos?
Como procuras a tua morada sob as pontes
ou espreitas nas chaminés da grande fábrica
que se ergue no teu castelo de colina?
Mas danças, mas não ris, eu pelo meu lado
já vendi a minha alma a Belzebu,
e as crateras dos teus olhos são tão belas...
muito mais do que um olhar se espelha nelas,
os espectros que assim descem das estrelas
lá os vejo a bailar, a afeição
que um dia a mim também me deu a mão...


Alexandre Vargas