naquela rua da praça…
foi ali que a encontrei
e conheci
e gostei
de a ver passar
com a quinda na cabeça…
não notei as cores dos panos,
não notei o que levava
para vender.
só reparei
e gostei
do seu colar de missangas.
soube depois
que era recordação
dum homem com quem vivera…
um dia
- quantos já passados –
estava ela na baía
quando o guerreiro,
fogueiro
ou marinheiro
de cabotagem,
apareceu por ali.
encontrou-a
convidou-a,
ela foi
e ofereceu-lhe o colar.
depois seguiu a viagem
e a vida seguiu também.
meses passados
nasceu-lhe o filho.
gostou,
ficou contente.
Depois
morreu-lhe o filho.
chorou,
enlouqueceu de repente.
e agora
todas as manhãs
quem quiser a vê passar
a caminho da quitanda
com a quinda na cabeça.
e conta os dias
passados á espera do filho,
pelas missangas
rubras, da cor das pitangas,
que vai pondo,
dia a dia,
no fio do seu colar.
ontem
quando a vi passar
o colar
tinha dez voltas…
Aires de Almeida Santos
Angola
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