6.2.11

Soneto da criança invencível…


soluça-me no peito uma criança calada
tão indefesa e tão triste, que temo o vento
a derrube. Assiste-me toda aninhada,
sem ter beiral ou ninho, trinado ou lamento…

anda-me na voz e soluça fustigada
pelas chuvas vendavais nos musseques do mundo…
pelas fomes infrenes, nos ghetos, varada…
pelas angústias-suicidas, se doendo, fundo…

ainda hoje é capaz de se maravilhar
com o sol, a noite, uma semente, um segredo,
de seguir o voo de um pássaro ou sonhar

para todos os meninos-velhos, um brinquedo…
escorraçada, embora, recusa-se a odiar,
e sem saber o mal. É frágil… mas sem medo!.


António Cardoso
Angola