abre o teu manto de burel
amado
e arrasta-me sobre as madressilvas
que do corpo já não sinto o meu
deixa
cair o pano que teceste
e recorta-o
segundo o teu molde
saber-lhe-ás dar destino
ler-lhe o poema original,
a utilidade que lhe justifica a vida
vesti-lo-ás
no dia da tua própria morte
e as marcas
que a tua irmã mais ingénua julga de framboesa
revelar-se-ão do teu próprio sangue
como o teu filho
que morreu sobre as garras do jardim
aquele que soubeste construir
para te subtrair ao medo
Ana Paula Inácio