Limpei os óculos a uma mulher a quem esqueci o nome.
Nunca lho perguntei. Foi um acto de amor. Falámos e de tudo o que dissémos
nada foi importante.
Jamais senti desejo de revê-la.
Despedi-me de seu corpo
rasguei-o sem perder-me.
Tudo isso e o ladrar de um cão
ficará na memória.
Talvez renasça um dia numa saga. Comigo
passa-se com os animais o mesmo que se passa com as pessoas.
gosto deles mas temo aproximar-me. Sinto-me tão exterior às coisas.
Uso-as com o máximo de desonestidade
mas isso não me preocupa,
tenho a vida inteira à minha frente para sentir remorso.
Eduarda Chiote