3.2.11

Toco os teus campos de neve


Toco os teus campos de neve
e entrego-me aos fantasmas da minha infância

Religiosamente bebo a gota esquecida na palma
da minha mão.

Brisas subtis deixam em arcos tensos
as pétalas que me enfeitam.

E estupidamente me trazem ruas empedradas
veias do meu mundo
onde a bússola e o desejo se confundem
confundindo o destino de nós.

Na ternura das vozes que me envolvem
há um convite ao poema que não consigo.

E as tuas montanhas sacodem
lembranças de outras cavernas
gemendo a noitinha estórias
de aves fugindo e picaretas cantando,
murmúrios de piratinhas,
sussurros de prazeres dolorosamente cambiados em
mercado negro.

Pouco a pouco lês no meu olhar ausente
a existência de outra ilha
E sentes a minha fé
e o braço se afrouxa
perante o adeus que adivinhas
no silêncio do meu corpo.


Dina Salústio
Cabo Verde