1.2.11

Havia um pajem loiro




Havia um pajem loiro, desse loiro luz ridente,
que de vivo nos dizia o que era amor de cravo.
Despia-se insinuante sem despir nada de si
e tão perturbável era seu luar de inteiro encanto,
quadrado como ele tinha a voz minguada doçura
que chegava a ser decente seu local corpo de infante
escapulido na rua.

Nem o tocava nem via, nem tolhia o seu ar,
no desejo de o tocar como sendo água fria
onde o pé entra ligeiro e logo entrado é certeiro
que tudo há-de molhar.

Ó dolente melodia noutra louca cidadela,
quem me dera cinderela, corça silente e tardia
debruçada na janela da minha alma vazia.

Ó mais dura solidão de estar por ti rodeado,
como cavalo poltrão que não respeita terrado
e ameaça romper o cordão, o emblema,
tudo aquilo que é sagrado, por minutos de ilusão
em minha crina morena.

António Botto