Não tinha normas aquele jogo,
nem regulamento.
Era um jogo, como se joga na vida,
era a própria existência.
Era o entretenimento
de que se fala num tempo passado
e que se brinca,
quando ao longe se vê o futuro.
No recreio,
a correria das regras
e as faltas inocentes,
e as culpas que passam ao lado…
Que perfeita a imperfeição daquela distracção.
Tudo era completo, cumprido, acabado.
Os risos inocentes dos homens maduros,
prudentes, que brincam à vida como crianças
e que perdem a vida como velhinhos,
que se esquecem do tempo, do momento,
do agora, aqui, e do já!
E o jogo perdia os atletas,
os desportistas, os corredores,
aqueles que se aventuraram e perderam
e aqueles que não queriam entrar no combate,
e aqueles que não sabiam
que o duelo acaba e acaba a vida,
acaba o jogo, perde-se de vista,
a pista, as barreiras.
E aqueles que ganham,
chegam ao fim, saltam os obstáculos
mais alto
e que brincam como adultos
e choram como crianças
e têm o que recordar, como velhinhos.
E do recreio,
corriam em alarme só aqueles
que reconheciam que a vida
só se joga uma vez…
Maria Ana Ferro