1.1.11

Folhas Vermelhas


Andam as estátuas a voar
em redor dos pássaros estáticos
sem que isso perturbe o bronze da manhã.
Os bancos em frente do rosto da cidade
só aceitam depositantes e não levantamentos.
Uns vagabundos de ar inteligente ainda dormem
sobre um manto invisível de folhas vermelhas.
Deve ser por isso que chegou o Outono.

Ouço um apelo das montanhas
nas asas do granizo
e lá vou eu em busca do Inverno
sem verdadeira coragem de olhar para trás.
Acompanha-me o vento sul e um ocaso
nasce dentro de mim a cem à hora
para acender-me a alma, velho motor
engripado com os versos de Oscar Wilde
e as histórias de Allan Pöe. Neste caso
deve ser algo que tenha a ver com amor.

Estou quase atingindo o clímax, o cimo,
os píncaros da felicidade plena, violeta
e branca, como as flores dos altares das igrejas
que povoaram a catequese da minha infância.

Estou por cima e, daqui, é mais fácil olhar
para baixo, contemplar o sofrimento dos outros
e aplaudir os seus rasgos de alegria. O poeta
tem este destino de eremita. Cultiva laranjas,
maçãs e pêros. Depois colhe romãs e cerejas.


José António Gonçalves