Miserere

Perdoai-me Senhor!
Perdoai-me, que eu não sabia...
No meu palácio
batido por todos os mares de coral,
encastoada em espumas,
e rendas,
e ouropéis,
coberta de cetins e de anéis,
no meu palácio de ilusão
onde cantam sereias pela noite dentro,
Senhor!
eu não sabia nada...
Foi preciso que o céu se cobrisse
de nuvens negras,
e a tempestade sacudisse
a solidão dos meus salões,
para que eu, transida de medo,
descesse aos subterrâneos do meu palácio,
em busca de protecção
e calor...
E nos subterrâneos...
só encontrei dor maior que a minha...
medo maior que o meu...
e loucura,
e suor,
e fome,
e ódio frio,
e revolta surda,
e o cheiro putrefacto dos corpos
que trouxe a maresia...
Ah! perdoai-me Senhor!
Perdoai-me...
que eu não sabia...
Alda Lara (poetisa angolana)