Menina pobre, eu venho agradecer-te 
Aquele sorriso bom que me inspiraste, 
Quando te vi na rua e julguei ver-te 
À flor dum rio, como flor sem haste. 
Balouçavas as mãos, como quem vai 
Numa estrídula marcha militar. 
E um laço nos cabelos, cai-não-cai, 
Fugia do compasso, a ralentar. 
Passavas pelas montras, como se 
Todas as coisas conhecesses bem; 
Ou, para alguma teres, pensasses que 
Bastaria pedi-la à tua mãe. 
Séria. – Somente em teu olhar brilhava 
Uma alegria de quem viu no céu 
A nuvem mais bonita que lá estava 
E o anjo que atrás dela se escondeu. 
O que os outros pensaram dos teus modos, 
Que importa? Nem teu nome ou tua idade. 
Eu venho agradecer-te por nós todos 
Essa lição de naturalidade. 
Que tu nos destes, ó fresca flor sem haste, 
À flor da rua, como á flor dum rio. 
- Menina pobre que por nós passaste, 
Que tanta gente olhou e ninguém viu.
Carlos Queirós
