Abril
Brinca a manhã feliz e descuidada, 
como só a manhã pode brincar,
nas curvas longas desta estrada 
onde os ciganos passam a cantar.
Abril anda à solta nos pinhais 
coroado de rosas e de cio, 
e num salto brusco, sem deixar sinais, 
rasga o céu azul num assobio.
Surge uma criança de olhos vegetais, 
carregados de espanto e de alegria, 
e atira pedras às curvas mais distantes 
- onde a voz dos ciganos se perdia.
Eugénio de Andrade

 
