do outro lado das palavras os ramos altos das figueiras
a misturar o tempo com restos de casas abandonadas
levanto as mãos no meu sonho
e uma ferida de água nas pontas dos dedos
durará aqui como um beijo imaginado
lembrando correndo dormindo
falo da outra face dos rios
de coisas velozes como a terra onde dói um sorriso
onde a noite se dobra nítida ao fervor das sementes
onde o corpo adivinha essa cor rasgada nos lençóis
depois olho-te em segredo
respiro o que tu respiras
escrevo essas palavras adormecidas no ar
olho-te longe da minha insónia
contemplo o horizonte quebrado dos montes
o trigo o feno as estevas rio-me
a sombra dos meus braços move-se
junto aos gatos entre avencas e silenas
fico imóvel atento
onde começará este esquecimento?
como será o meu silêncio no teu rosto?
deita-te sobre mim vem escuta
as árvores abrem-se ao meio nas ruas da vila
nas pedras cansadas nas amoras junto ao sol dos muros
vem não tenhas medo
sou teu e também isto são pormenores
vem era uma vez dois magos numa floresta
Joaquim Cardoso Dias