6.1.11

Despudor



Trago na retina
o baú dos segredos
e espelho rosas
em águas calmas.
Habito entre as almas
no tom matiz dos medos
e bebo o fascínio
do néctar que escorre
colhido no exílio dos penedos.
Seguro uma caneta de ponta fina
entre a cútis dos dedos,
cúmplice atrevida
das horas silenciosas
e danço nua, na penumbra,
num esvoaçar de borboleta,
despenteada,
pelos olhos da noite espreitada.
Responde-me o eco
que pelo absoluto corre
como fantasma que da lápide se ergue
e, sou, de novo, menina
pela primeira vez enamorada.
Num esvoaçar de pombas,
soltam-se as palmas
dum sol de oiro em declínio
e a lua sem pudor
espreita maravilhada
e vem, mansamente, falar-me de amor.


Isabel Branco