Tradução de Moema Parente Augel
Sentado na varanda como um esmoler
a poeira da água (um véu de
lágrimas) embaciando os olhos
a razão [misturando-se
confusamente] com preocupação
Naquele tempo do fanado
com os donos do mato
Golpeando com a catana (o facão)
nas costas do povo inocente
golpes de fogo
Golpes de fogo?
Éo momento da desgraça (Isso
agora é uma calamidade!)
[Os moradores das casas acorrem para ver
os corpos queimados
outros despedaçados (mutilados)
O povo corre sem destino (em pânico)
aldeias destruidas
pela lança das kassissas
a mortandade se espaiha
a desgraça divide o povo
Tempo para rituais [e sacrificios] não há
os irans estão chocados
as doenças se alastraram
as pessoas
Endoideceram e isso trouxe a desgraça
a desgraça que levou fartura
para os abutres
abutres que vigiaram os incêndios
O incêndio do berço da Guiné
As kassissas e as pessoas (os mortos e os vivos)
vão trocar as roupas (misturam-se, não se sabe quem é quem)
Politiqueiros viraram intrigantes
a razão está posta na cabaça grande
cabaça grande que trouxe a desgraça
Desgraça que é uma má notícia
(desgraça da desgraça)
que abraça a Guiné
Guiné onde as almas (os mortos)
cairão
como os frutos do mampatas
a fraternidade está [tão] separada
como Bolama [está longe] de São João
Desgraça trapaceira
Desgraça mofina
Desgraça feiticeira
que quer hospedar-se na Guiné
Desgraça que as cabeças insanas
estão a semear
e vão semear cada vez mais
Desgraça teimosa
que não quis acompanhar a mudança dos tempos
e quis impedir-nos de presenciar a nova floração do caju
que quis impedir-nos de presenciar
a chegada dos nhominkas/ pescadores
que quis impedir-nos
de levantarmos a esteira do chão
Essa desgraça (calamidade)
que me dá medo
tenho medo que o mundo
caia no caos
em vez de mudar para o bem
Tenho medo
da areia (das impurezas) que está no balaio
esperando ser sacudida (jogada fora)
Tenho medo
das cabeças da Guiné (do estado mental)
Tenho medo
do coração da Guiné
Tenho medo
que a desgraça
continue a desgraçar a Guiné
Tenho medo pela Guiné
é só disso que tenho medo
dessa desgraça das desgraças.
Respício Nuno (Guiné)