13.12.10

no coração dos bosques


Há lembranças que matam
há bosques onde os amados vivem para sempre

há um cutelo de água nas fontes
quando as palavras voam para muito longe

há a noite
e os cães que dormem em cordas de sono
em vogais de vento e abandono

há barcos que deslizam no horizonte
muito lentamente
e as estrelas descem por dentro dos mastros
na noite

há uma orquídea azul que se suicida
onde começa o teu nome

há um relâmpago martirizado em meu peito de cambraia
que teima brotar laranjas de fogo

há um peixe alucinado que canta desmedido
em um céu de cisternas e serpentes

é dezembro. e os girassóis recolhem-se para dentro
- atravessam meu peito de agonia e ouro -
rasgam lenços de seda em minha casa d’ Oriente

há sinos de sangue em molduras de sombra e vento

o Sol ilumina um jardim oculto
que te transforma em fonte


Maria Azenha