Há lembranças que matam
há bosques onde os amados vivem para sempre
há um cutelo de água nas fontes
quando as palavras voam para muito longe
há a noite
e os cães que dormem em cordas de sono
em vogais de vento e abandono
há barcos que deslizam no horizonte
muito lentamente
e as estrelas descem por dentro dos mastros
na noite
há uma orquídea azul que se suicida
onde começa o teu nome
há um relâmpago martirizado em meu peito de cambraia
que teima brotar laranjas de fogo
há um peixe alucinado que canta desmedido
em um céu de cisternas e serpentes
é dezembro. e os girassóis recolhem-se para dentro
- atravessam meu peito de agonia e ouro -
rasgam lenços de seda em minha casa d’ Oriente
há sinos de sangue em molduras de sombra e vento
o Sol ilumina um jardim oculto
que te transforma em fonte
Maria Azenha