Estou cansada de ser gente...
Quero um Destino diferente!
Nem ave, nem flor, nem semente...
Quero um Destino diferente!
Gostava de ser estrada!
Uma estrada da vida,
bem pisada,
bem calcada,
bem corrida...
Que a chuva me fustigasse
e o vento me desgrenhasse!
Que a força do furacão
atirasse as minhas pedras
ao meu próprio coração!
Que me corressem os mendigos
com a sacola pesada
e à noite, a horas mortas,
os garotos delinquentes
que roubam fruta nas hortas,
me cuspissem os vestidos
de cascas e de sementes...
E ao domingo, saltitantes,
as meninas do orfanato
com o seu ar sério e abstracto,
me pisassem toda, toda,
me deixassem bem pisada,
passeada,
remexida,
esfarrapada...
Que bom seria ser estrada!
Amélia Veiga
Angola
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