Caminhos de areia solta
E terras do fim do mundo
Aqui estou eu
Pára o vento e pára o mar
Deixa os bichos de andar
Os homens vão-se embora
Daqui para fora
Que eu vou falar
E cantar.
Deixa-na passar por florestas
E que tudo sejam festas
É uma mulher toda nua
beleza rude da rua
Ela vem para dançar
O meu cantar e falar.
Arpas e violinos
Belos corais de meninos
Cenários de fogo e terra
Trombetas de fim de guerra
É ela que vai dançar
E sou eu que vou cantar.
Rebentem nos ares os medos
Acabem os arremedos
Arrasem-se as falsidades
E as torpas velhas cidades
Que ela dance
Até que canse.
Caminhos de areia solta
E terras do fim do mundo
Aqui estou eu
Música nos mares e ares
Azáfama nos teares
Os fornos cheios de pão
Muitas flores pelo chão
E ela sempre a dançar
Enquanto eu não calar.
Trombetas vamos mais fortes
A morte agora é a morte
E não mais fruto de guerra
Reina a paz em toda a terra
Por isso há festa
e o canto da floresta.
Morreram os falsos homens
E todos os lobisomens
Os reis da fome e da guerra
Por isso há paz sobre a terra
E as cordas dos enforcados
Enfeitam os nossos telhados.
Quando presos os levamos
E depressa os enforcamos
As flores de todo o mundo
E as algas do mar sem fundo
Deram tal grito de amor
Que eles nem sentiram dor.
Caminhos de areia solta
E terras do fim do mundo
Aqui estou eu
É que as flores bem sabiam
As canções que assim nasciam
Canções alegres e belas
Luz a jorros pelas janelas
Pão, amor e liberdade
Para toda a humanidade.
E agora que páre a dança
Da mulher que já se cansa
És tu a mulher primeira
A beleza verdadeira
Anda comigo pela terra
Dizer que acabou a guerra.
Caminhos de areia solta
E terras do fim do mundo
Aqui estou eu
Eu e a mulher primeira
Nua, pura e verdadeira
Que tudo o resto morreu.
Ilídio Rocha
Moçambique
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