Todas as manhãs invento um novo motivo
para permanecer, enquanto lá fora
cruéis as aves me ensinam a partir.
Não posso dizer adeus. Aqui as noites
são menos gélidas, e as madrugadas, cálidas
embalam o meu medo de me aventurar.
Não posso dizer adeus. Nunca ninguém
me ensinou o seu real sentido, mas se este
é realmente o teu desejo, eu irei, sem no entanto,
provar a dor da despida, pois não posso dizer adeus.
O olhar, volvendo compungido, atrás,
meu porto de partida e chegada jaz, fulmina-se
também o calor da primeira habitação.
Em meu peito, tudo está gasto, menos o silencio.
Enfio a mão na algibeira do casaco, e já não
encontro tudo aquilo que outrora tínhamos
um para o outro.
Eusébio Sanjane