Nossa Senhora de Paris
Listas de som avançam para mim a fustigar-me
Em luz.
Todo a vibrar, quero fugir... Onde acoitar-me?...
Os braços duma cruz
Anseiam-se-me, e eu fujo também ao luar...
Um cheiro a maresia
Vem-me refrescar,
Longínqua melodia
Toda saudosa a Mar...
Mirtos e tamarindos
Odoram a lonjura;
Resvalam sonhos lindos...
Mas o Oiro não perdura
E a noite cresce agora a desabar catedrais...
Fico sepulto sob círios,
Escureço-me em delírios
Mas ressurjo de Ideais...
– Os meus sentidos a escoarem-se...
Altares e velas...
Orgulho... Estrelas...
Vitrais! Vitrais!
Flores de Lis...
Manchas de cor a ogivarem-se...
As grandes naves a sagrarem-se...
– Nossa Senhora de Paris!...
Mário de Sá-Carneiro
Paris, 15-6-1913