2.2.09

No parque da cidade



O parque desce sob o meu olhar
instável desce para o lago
onde florescem latas de cerveja, folhas
e a névoa dos namorados.

À superficie das coisas o pó
aquietado da vida, a poalha dos impropérios
da castiça, o fumo do monte branco
a coroar, à hora da bica, a ave da juventude

que assobia canções combatentes.
Muita coisa começou assim, um punhal
a esmagar os sonhos, uma pedra a torcer
o primeiro amor contra o mundo.

Mais tarde, é sempre mais tarde, a morte
de amigos cuspiu de mim toda a cidade,
as ruelas que iam para o fontelo
escureceram também para sempre.

O silêncio, como o inferno, começa sempre
com os outros.


Fernando Luís Sampaio
Moçambique