4.2.09

Escreva mãe




Escreva mãe
Escreva,
Porque hoje estilo,
Verso a verso
O estalo que me acontece ao acalho
Não me cale mãe,
Se é que encalho,
Deixe-me enxuto
Deixe-me sepulto
Neste poema que se instala
Emudecido em talco

Escreva,
Escreva mae,
Escreva,
São pássaros!
pássaros!
pássaros e não andorinhas
Que bicam o arroz feito dos seus filhos mãe
Cantarolando saciados da nossa desgraça
São pássaros!
E eles, já não são mais pássaros mãe
São passaredos parasitas!
Que dos quatro cantos do mundo
Nos inundam e cantam mãe
E do espaço que nunca lá estivemos
Voam, voam e voam
Depositam grão a grão
O purificado cereal dos seus bossudos ventres
Olha para eles mãe!
São pássaros!
pássaros!
No brio adestrado das suas asas
São pássaros mãe!
Quantos grilhões lhes prende sozinhos ao espaço?
Quantos grilhões lhes prende à liberdade dos pássaros?
E a nós mãe! No vazio das nossas negras mãos?

Noé Filimão Massango
Moçambique