Que tarde tão fria!
É já Outono.
E hoje não houve sol;
O sol! - porque não viria?
Deram agora seis horas
Nos bronzes
Da enorme catedral
E no ar vai-se formando
Uma finíssima névoa
Glacial.
Passam vultos.
Mas ele tarda, não aparece...
As folhas do arvoredo
Tombam no ar e lá vão...
Anoitece.
A névoa vai alastrando,
- Já me envolve...
Porque choras, porque tremes,
Meu coração?
As minhas mãos arrefecem
Brancas, brancas de anemia,
Nem as sinto!
- Que tarde tão fria!
E regresso à minha alcova
Como quem vai para a morte
mais lenta,
Desiludido, cansado...
Uma lágrima desce no meu rosto gelado.
António Boto