Porto de abrigo
de naus carregadas de tristeza
vindas das índias longínquas
do coração negro
banham-me ondas
feitas de desejo e pranto
e trazem-me as brisas
os cantares de homens gemendo
sob o peso da angústia.
Por isso
não demoro meus olhos
sobre as belezas do mundo
seus pores-de-sol
montanhas azuladas
seus mares bonançosos.
Que me importa
o perfume das rosas
os lirismos da vida
se meus irmãos têm fome?
Todo o meu ser se debruça
ante o drama da História
que nos legou
esta alma triste
de submissão e sofrimento
Todo o meu ser
vive
o querer dos homens sem norte
à procura
de Certeza
Agostinho Neto (Angola)