De que me serve a placidez da Primavera?
O grito desconjuntado dos pássaros,
a inquietude rumorejante desta paisagem de folhas?
De que me serve o cheiro acre
dos dias terminados e a
memória trémula das mãos,
do desejo pálido da pele?
De que me serve o
sino-marca-horas,
marca-passo-do-desejo,
o augúrio impertinente das horas
que não tornam mais?
Os sulcos indiferentes
da amarga poesia do teu corpo.
O pousio das horas do silêncio.
A dança equilibrista
das folhas do Outono.
Na sombra onde me encontro
apenas a poalha das estrelas,
uma mácula de luz, ou
talvez só a sua grata memória.
Alexandra Malheiro