11.3.11

Canção


(para Fiama Hasse Pais Brandão)

O buxo forma um arco com algumas
dezenas de léguas que é preciso percorrer.
Depois há um pomar de magnólias brancas,
de onde se pode vislumbrar o esplendor de um regato.
Deste regato, contando cinquenta passos, alcança-se o jardim.
Cada um dos canteiros do jardim está disposto numa singular
correnteza de sete pequenos losangos, que são coroados
por um círculo de terra. Em cada círculo de terra
há flores brancas e amarelas, sendo jacintos as mais vigorosas
e gerânios as que dissipam a sombra. Segue-se, depois,
por uma estrada de saibro, e descobre-se um lago,
enquadrado por quatro torres vermelhas. O lago
é de um azul penetrante e as árvores que o circundam
são sagradas. Depois, segue-se pelo caminho da esquerda,
que se bifurca na ponte de pedra. Daqui, segue-se em frente,
até ao campo de girassóis, que dez colmeias pontuam
e um velho castanheiro vigia, desde o tempo dos tempos.
Depois, há uma clareira que se deve atravessar até que se encontra
um portão. Não havendo ninguém ao portão, acende-se um archote
para iluminar o caminho. Esta luz deve ser obstinada.
Depois, à direita, há um túnel, e, logo após, uma gruta
e uma longa escadaria, que se deve subir como uma montanha.
Encontra-se, por fim, a antecâmera. No centro da antecâmera
ergue-se um trono e, à frente do trono, há uma cama,
em que uma mulher está adormecida. Sobre o rosto
desta mulher adormecida está um livro aberto,
que é preciso ler até que o amor seja um laço de sangue.
E tudo isto feito, Fiama há-de estar viva.


Amadeu Baptista